Das banhadas
Estou nesta saga do envio de CVs desde Setembro. Tenho uma lista gira para onde copio todos os anúncios a que respondo e fico a aguardar: 21 páginas de esperança em forma de Arial 10. Muitas letras pequenas onde não constam as candidaturas espontâneas e aquelas que, entretanto, tiveram seguimento.
De vez em quando lá me dizem que não encaixo no perfil procurado e eu não levo a mal. Obviamente que lamento - porque a) quero trabalhar na minha área b) quero sustentar-me c) não me quero sentir frustrada para sempre - mas aceito ser trocada por pessoas com mais experiência e formação que eu. Prefiro isso do que ficar pendurada. Aliás, prefiro que digam que o meu currículo fica na base de dados (palmadinha nas costas cliché) do que não me respondam de todo.
Mas vá, para que estou aqui a dizer mal da festa? Neste tempo consegui, espantem-se, cinco entrevistas! Perceberão já a seguir porque razão só fui a três e, no final, só quis ficar numa. Serei biqueira? Ou limitei-me a analisar os dados? Podia ter analisado tudo antes de gastar 30 euros para ir ao Porto? E se eu vos disser que o anúncio que li e a chamada que recebi não correspondiam ao que me foi dito in loco, o que é que me respondem? Às vezes há pessoas que põe em causa o esforço que tenho feito para arranjar trabalho e eu só espero que os meus pais nunca façam parte desse grupo.
Uma vez, lancei-me a um estágio de três meses num Departamento de Comunicação de um atelier de moda. Só pagavam subsídio de alimentação e transporte mas nunca tinha estado em nada do género e achei que seria uma experiência importante. Depois da entrevista, contudo, quase rezei para não ficar: em vez de trabalhar no departamento que a empresa nem tinha, ia fazer trabalho administrativo, engomar roupa e etiquetá-la. Cento e - muito - poucos euros/mês para ser empregada de escritório e doméstica a full-time? No, thanks!
Mas vá, para que estou aqui a dizer mal da festa? Neste tempo consegui, espantem-se, cinco entrevistas! Perceberão já a seguir porque razão só fui a três e, no final, só quis ficar numa. Serei biqueira? Ou limitei-me a analisar os dados? Podia ter analisado tudo antes de gastar 30 euros para ir ao Porto? E se eu vos disser que o anúncio que li e a chamada que recebi não correspondiam ao que me foi dito in loco, o que é que me respondem? Às vezes há pessoas que põe em causa o esforço que tenho feito para arranjar trabalho e eu só espero que os meus pais nunca façam parte desse grupo.
Uma vez, lancei-me a um estágio de três meses num Departamento de Comunicação de um atelier de moda. Só pagavam subsídio de alimentação e transporte mas nunca tinha estado em nada do género e achei que seria uma experiência importante. Depois da entrevista, contudo, quase rezei para não ficar: em vez de trabalhar no departamento que a empresa nem tinha, ia fazer trabalho administrativo, engomar roupa e etiquetá-la. Cento e - muito - poucos euros/mês para ser empregada de escritório e doméstica a full-time? No, thanks!
Entretanto, chamaram-me para ir trabalhar para Almada. Um bocado chato para fazer todos os dias de transportes, mas sendo na minha área esses esforços valem a pena. Ao telefone ainda pedi mais informações mas responderam-me: "marketing, depois na entrevista explicam-lhe melhor". Estranhei, mas decidi tentar. Perguntei a uma amiga da zona se me podia explicar como chegar lá e, surpresa, ela já tinha ido a essa entrevista. Teria de usar o comboio, metro e caminhar durante uns minutos por locais "manhosos" para, rufar de tambores, ser comercial! Desisti da ideia na hora: para além de ser longe e do preço dos transportes, ser comercial é aquele trabalho que vou evitar até à última - mil vezes melhor trabalhar em cafés, o que até já fiz nas férias, a impingir produtos e serviços nos quais nem sequer acredito. Não.
Duas oportunidades de ouro jogadas ao lixo, vem a terceira: escrever artigos para um jornal. Fantástico, ainda bem que me aceitaram e vou ganhar uns trocos, deixa cá quanto pagam à peça. Lá vem a anedota: "infelizmente estamos a começar e a sua colaboração será voluntária, mas em breve conseguiremos o financiamento necessário para premiar todos os colaboradores". Está bem abelha! Agradeci e recusei educadamente.
À quarta, foi de vez: chamaram-me para um estágio profissional numa empresa de arquitectos, para trabalhar a comunicação dos seus projectos, no centro de Lisboa. Fui eu à entrevista e queria mesmo ficar, mas infelizmente não passei à fase seguinte por não ter conhecimentos de Illustrator e Photoshop, ao contrário de outros candidatos. Justo, mas lixado - o mote para decidir que estava na altura de sair de Lisboa já que arranjar trabalho na área se estava a tornar uma utopia.
Vim passar o fim-de-semana e, quando me preparava para voltar para Lisboa, ligam-me a perguntar se podia ir a uma entrevista ao Porto, no dia seguinte. Um bocado em cima da hora, tentei perceber se valeria a pena: desculpe, pode só relembrar-me se é contrato ou estágio profissional?. "É como preferir, porque nem toda a gente tem as condições exigidas para o estágio". Ok! Estágio profissional na área de eventos - E-V-E-N-T-O-S, uma das minhas áreas de eleição para trabalhar!
Corri a preparar-me para a entrevista. No site, não vi referência à organização de eventos, mas supus que pudesse ser uma nova área em que queriam apostar. Fui e sabia que me estava a correr bem. Quando perguntei pelos eventos a directora esclareceu-me que não os organizavam, apenas iam - e uma parte de mim morreu ali. Quis então saber qual seria a minha função, já que o anúncio referia eventos e ao telefone me tinham dito o mesmo. Nada de eventos: mostrou-me quatro cargos dentro da empresa pelos quais passaria durante um ano (achei estranho porque um estágio profissional dura 9 meses, mas sendo a senhora espanhola não liguei, podia ter-se equivocado por não estar muito dentro das leis), desde "promotora" (nos tais eventos!) a "assistente da direcção". Não era o que esperava mas não me pareceu descabido começar por baixo e conhecer todas as actividades da empresa. Já me estava a imaginar no Porto, com quase 800€/mês, fosse no cargo que fosse.
Às 19h00 ligar-me-iam a informar se tinha ou não passado à segunda fase e assim aconteceu. Fui seleccionada e no dia seguinte (hoje) teria de estar outra vez no Porto, de manhã. Resolvi confirmar se sempre seria com o estágio profissional, já que duas viagens era demasiado investimento da minha parte, queria ter a certeza do que estava a fazer... e aí veio o balde de água fria: respondeu-me que dependia da função em que estivesse. Como? Mas eu não sou daí, tenho de saber se é compatível com a minha subsistência na cidade, a sua assistente disse-me que seria estágio profissional... Pois, afinal não. Enquanto fosse promotora dependeria dos eventos e das comissões. Se só houvesse um evento nesse mês, estão a ver o que ganharia. Mais um tiro no pé.
Não me acho especial, sei que tem acontecido o mesmo a muita gente como eu. Depois disto tudo interrogo-me se há possibilidade de incluir estas experiências no CV. É que resistir a tanta brincadeira pode ser um exemplo de resiliência - e motivação, força de vontade, entre outros clichés dos anúncios - e talvez seja este o ponto que me falta para que me comecem a chamar para trabalhos decentes (e não, eu não faço questão que me dêem a banhada, simplesmente não sei de que forma agir, candidato-me a muitos anúncios e não posso prever que sejam enganadores).
Acho que os exemplos acima mostram que não ando mesmo armada em biqueira, mas também quero evitar opções insustentáveis: uma coisa é receber pouco para estar num sítio onde posso crescer profissionalmente, outra é estar presa num trabalho sem jeito nenhum, que nem as contas ao fim do mês me paga, certo? Defendo que nós, putos danados para trabalhar mas cuja conjuntura parece não estar na mesma onda, temos tendência a meter-nos em alhadas e que eles, os pais dos putos que teimam em mandar currículos e meter-se em embrulhadas, têm de ter paciência (e orgulho, vá).
Duas oportunidades de ouro jogadas ao lixo, vem a terceira: escrever artigos para um jornal. Fantástico, ainda bem que me aceitaram e vou ganhar uns trocos, deixa cá quanto pagam à peça. Lá vem a anedota: "infelizmente estamos a começar e a sua colaboração será voluntária, mas em breve conseguiremos o financiamento necessário para premiar todos os colaboradores". Está bem abelha! Agradeci e recusei educadamente.
À quarta, foi de vez: chamaram-me para um estágio profissional numa empresa de arquitectos, para trabalhar a comunicação dos seus projectos, no centro de Lisboa. Fui eu à entrevista e queria mesmo ficar, mas infelizmente não passei à fase seguinte por não ter conhecimentos de Illustrator e Photoshop, ao contrário de outros candidatos. Justo, mas lixado - o mote para decidir que estava na altura de sair de Lisboa já que arranjar trabalho na área se estava a tornar uma utopia.
Vim passar o fim-de-semana e, quando me preparava para voltar para Lisboa, ligam-me a perguntar se podia ir a uma entrevista ao Porto, no dia seguinte. Um bocado em cima da hora, tentei perceber se valeria a pena: desculpe, pode só relembrar-me se é contrato ou estágio profissional?. "É como preferir, porque nem toda a gente tem as condições exigidas para o estágio". Ok! Estágio profissional na área de eventos - E-V-E-N-T-O-S, uma das minhas áreas de eleição para trabalhar!
Corri a preparar-me para a entrevista. No site, não vi referência à organização de eventos, mas supus que pudesse ser uma nova área em que queriam apostar. Fui e sabia que me estava a correr bem. Quando perguntei pelos eventos a directora esclareceu-me que não os organizavam, apenas iam - e uma parte de mim morreu ali. Quis então saber qual seria a minha função, já que o anúncio referia eventos e ao telefone me tinham dito o mesmo. Nada de eventos: mostrou-me quatro cargos dentro da empresa pelos quais passaria durante um ano (achei estranho porque um estágio profissional dura 9 meses, mas sendo a senhora espanhola não liguei, podia ter-se equivocado por não estar muito dentro das leis), desde "promotora" (nos tais eventos!) a "assistente da direcção". Não era o que esperava mas não me pareceu descabido começar por baixo e conhecer todas as actividades da empresa. Já me estava a imaginar no Porto, com quase 800€/mês, fosse no cargo que fosse.
Às 19h00 ligar-me-iam a informar se tinha ou não passado à segunda fase e assim aconteceu. Fui seleccionada e no dia seguinte (hoje) teria de estar outra vez no Porto, de manhã. Resolvi confirmar se sempre seria com o estágio profissional, já que duas viagens era demasiado investimento da minha parte, queria ter a certeza do que estava a fazer... e aí veio o balde de água fria: respondeu-me que dependia da função em que estivesse. Como? Mas eu não sou daí, tenho de saber se é compatível com a minha subsistência na cidade, a sua assistente disse-me que seria estágio profissional... Pois, afinal não. Enquanto fosse promotora dependeria dos eventos e das comissões. Se só houvesse um evento nesse mês, estão a ver o que ganharia. Mais um tiro no pé.
Não me acho especial, sei que tem acontecido o mesmo a muita gente como eu. Depois disto tudo interrogo-me se há possibilidade de incluir estas experiências no CV. É que resistir a tanta brincadeira pode ser um exemplo de resiliência - e motivação, força de vontade, entre outros clichés dos anúncios - e talvez seja este o ponto que me falta para que me comecem a chamar para trabalhos decentes (e não, eu não faço questão que me dêem a banhada, simplesmente não sei de que forma agir, candidato-me a muitos anúncios e não posso prever que sejam enganadores).
Acho que os exemplos acima mostram que não ando mesmo armada em biqueira, mas também quero evitar opções insustentáveis: uma coisa é receber pouco para estar num sítio onde posso crescer profissionalmente, outra é estar presa num trabalho sem jeito nenhum, que nem as contas ao fim do mês me paga, certo? Defendo que nós, putos danados para trabalhar mas cuja conjuntura parece não estar na mesma onda, temos tendência a meter-nos em alhadas e que eles, os pais dos putos que teimam em mandar currículos e meter-se em embrulhadas, têm de ter paciência (e orgulho, vá).
Isso é que vai aí uma açorda... Mulher, coragem! Já faltou mais para estar na mesma situação que tu e sei que vai ser duro. Força de vontade e motivação não te hão de faltar! Daqui a nada estás empregada a fazer o que gostas! ;D
ResponderEliminarOh pá, nao desistas, é só o que te digo. E poderia dizer-te algo mt negativo pq ainda ontem levei um balde de agua fria de uma situação completamente injusta e manchada de cunhas que de vem a arrastar desde Julho. Julho! Vais certamente encontrar algo, provavelmente algo que nao te encherá logo as medidas, mas que nao deve ser exploração. Agr há tão poucos trabalhos que quem tem um, por mt mai que seja, se agarra a ele com unhas e dentes, mas estou ctg e acredito que mereces melhor. Por isso continua a tentar que mais cedo ou mais tarde, ele chega. E agradece aos teus pais o apoio, isso vale ouro.
ResponderEliminarBem, tens percorrido um longo caminho na procura de emprego. Infelizmente as empresas estão a aproveitar-se da conjuntura económica do nosso país e as que ainda oferecer trabalho, oferecem-no com condições muito abaixo das competências das pessoas. Já para não falar dos anúncios enganadores como tu falas, oferecem mundos e fundos nos anúncios, chega-se lá e não é nada do que pintaram. Espero que a tua batalha corra bem, certamente vais conseguir pois já vi que és lutadora e acima de tudo que sabes aquilo que vales e o que mereces! Um beijinho*
ResponderEliminarEntendo perfeitamente o que dizes, tem-me acontecido o mesmo, infelizmente. E eu já estou há mais de um ano desempregada...
ResponderEliminarOh pah gostei mesmo muito da parte final eheheh
ResponderEliminarE sim mete isso no curriculo, podem ser q alguem q te chame pra uma entrevista ache mesmo q seja sinonimo de resiliência e força de vontade
E boa sorte, q aliada à resiliência e à força de vontade pode ser q dê mesmo pra arranjar algo bom :)
Não acho que seja muito selectiva nem nada disso...há simplesmente muitas empresas a aproveitar-se da crise para fazerem o que querem com os candidatos, porque pensam que eles estão tão mal que aceitam tudo...Mas aí é que se enganam e é bom haver pessoas como tu e eu que negam ser escravizadas...E vais ver qualquer coisa aparece alguma coisa que te encha as medidas ;)
ResponderEliminarMuito muito obrigada pelas palavras!
Beijinho*
A minha experiência no mundo do trabalho ainda não começou em força... só trabalhei durante dois meses na minha vida, e a experiência não foi propriamente boa. Não sei porquê, mas à medida que foste relatando as tuas experiências eu só pensava que se fosse eu no teu lugar não iria conseguir recusar, por pior que fossem... tenho problemas em dizer "não", mesmo que isso me prejudique. Aqui, onde vivo, a realidade é um pouco diferente. É um meio mais fechado mas o Governo Regional até nos dá boas oportunidades nesse campo.
ResponderEliminarSó me resta desejar-te boa sorte na procura de um emprego minimamente bom :) ... para precário basta o resto.*
Entendo tão bem o que estás a passar... E a mim que só me dá vontade de chorar, na área da hotelaria/turismo só vejo vagas de estágio ente junho e agosto (vá-se lá saber porquê!) em que pagam uns míseros 250 euros. Também eu queria ser empresa e ter estagiários a trabalhar para mim como escravos na época alta e pagar-lhes miseravelmente, para depois em Setembro dar-lhes um pontapé no c* ...
ResponderEliminarOlha, é respirar fundo e continuar na luta. A mim é o que menos me apetece mas é o que tenho de fazer :/