Alhos sem bugalhos #1
A mesa aberta, as cadeiras à volta, uma taça com tremoços, outra com azeitonas. As santas sobre a mala e o candeeiro que eu acho que nunca tinha visto mas que, pelo aspecto, está ali há mais tempo do que eu existo. A casa remodelada mas sem sombra de modernidade. As portas pintadas num tom claro - e agora ternurento - de cinzento. Nunca me pareceu poético. Nunca me pareceu poético e não me lembro, sequer, do que me possa ter parecido. Memórias vagas da(s) sala(s) e de como era o pátio no tempo em que por algum motivo por ali andávamos a brincar. Da cozinha lembro-me melhor. Aquele poster que tivemos durante anos, com a bisavó comigo ao colo, sentadas ao lado da lareira, não deixa esquecer. Eu, bebé, com um chocalho azul e laranja na mão. Ela, com a cara e o nariz iguais aos da bruxa da Branca de Neve quando se mascarou de velhinha para lhe oferecer a maçã. Eu, de babete branco. Ela, com um só dente e um sorriso. A cozinha, com os azulejos que só conheço dali e que ainda hoje l...