Equipa

   Hoje pediram-me que, quando terminasse a tese, a enviasse, pois gostariam de a ler. Fiquei surpresa e embaraçada, pois nas últimas mil vezes que mostrei trabalhos a alguém, foi a colegas: para pedir opiniões, dar ideias, deixar copiar - não é doces do segundo ano? :) - ou simplesmente partilhar, porque é uma área na qual todos temos interesse e gostamos de aprender.
   É engraçado como a vida, que odeio a palavra destino e não sei sequer se a devo usar, junta as peças de uma maneira tão calculada (e simultaneamente subtil). Estou certa que este pedido não teve qualquer intenção de fazer um clique naquilo que sou, mas fez - e clarificou a razão da preguiça que se apoderou de mim nos últimos anos, desde os quais deixei de fazer coisas a roçar a perfeição, substituindo-as por desenrasques.
   Lembro-me de ter sempre lá alguém. Alguém que me ajudava nos recortes para o postal do Concurso de Natal. Alguém que lia os meus textos de língua portuguesa. Alguém que pedia para ouvir-me a debitar as novas palavras aprendidas na aula de inglês. Alguém com quem ensaiava teatros. Alguém que dava, indirectamente, rumo ao meu caminho e a quem queria, sem qualquer tipo de pressão, mostrar sempre mais e melhor.
   Acontece que os tempos mudam, as pessoas ainda mais. Deixei de ter alguém a torcer na bancada, para que marcasse golo. Podem haver adeptos, que ficam a assistir na TV, mas deixou de haver quem fosse ao estádio. Deixou de haver quem ecoasse músicas de apoio e deixou de haver quem quisesse, de facto, colocar álcool nos joelhos esmurrados. A equipa está lá, é o modo de vida no qual me educaram, mas a garra e a vontade de vencer deixou de fazer sentido, pois não há ninguém ansioso para segurar comigo a taça, se ela vier - e não virá, porque nunca fui de me dedicar a mim própria, pelo que a corrida nesta demanda há muito perdeu parte da velocidade.

   Incrível o efeito que uma pergunta genuinamente simples, de alguém que se acaba de conhecer (e com o qual a única afinidade é ser um amigo de longa data dos teus pais) pode ser tão relevante, num determinado momento.  Foi quase paternal e, acreditem ou não, hoje peguei no computador sem pensar duas vezes. 
   Muito obrigada pela motivação, ainda que não tenha reparado. Não sei se imagina a frustração de, sempre que se quer uma opinião, ter de empurrar os trabalhos, os vídeos e até os ficheiros áudio a pessoas que, sendo teoricamente da sua equipa, balbuciam um "depois", ou suspiram enquanto vêem - o que, na minha teoria, é impróprio para uma equipa. Quando estou no banco continuo a torcer por nós e, mesmo vendo actuações diferentes de alguns elementos, não tenciono tornar-me egoísta. Nenhuma vitória pode ser saboreada individualmente e a realização pessoal só é possível se estiver em consonância com o meio que nos envolve. 
   As pessoas gostam de carinho, de atenção, de palavras de apreço e de sentir que têm um suporte. Atitude passiva não é uma hipótese quando pretendemos fazer parte da vida de alguém, mas obrigada, ainda assim, a todos os que continuam a fazer parte e que, secretamente, me assistem sentados no sofá, de cachecol na mão. É por vocês - e só não é com mais determinação, porque me falta chão.

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