Infelicidade - uma palavra que mete dó

   Nunca desejei infelicidade a ninguém (apesar de saber que, para alguns, ser infeliz na sua acepção mais profunda é ficar sem saldo no telemóvel ou não conseguir comprar o bilhete para o concerto desejado - e nesse caso admito, já torci para que algumas destas coisas acontecessem, não me lembro agora de nenhum exemplo, mas de certeza que já o fiz). Já sei que (in)felicidade é algo subjectivo e é óbvio que as futilidades que mencionei não me passam ao lado: merecem, momentaneamente, um "oh bolas" na minha vida. Mais, às vezes aborrecem-me e sim, às vezes ficaria mais satisfeita se tudo me corresse de feição. Mas isto impede-me de ser feliz? F-E-L-I-Z?
   Se me permitem, odeio a palavra e seus derivados. Felicidade, infelicidade, feliz, infeliz. Soam-me a cor-de-rosa piroso, a flores e a ursinhos em cartões foleiros - e, no entanto, sempre me considerei feliz. Mais do que satisfeita ou remediada, feliz. Mesmo que nem sempre emanasse fogo-de-artifício, era feliz. E quase que ainda sou, nesta mania do optimismo.
   Descobri a infelicidade na primeira pessoa e é do mais amargo que há. Sempre vi infelicidade nas grandes tragédias e não me achei superior à fome, à guerra ou às catástrofes naturais. Sempre soube que se estas chegassem, iria sofrer. Mas o que mais me poderia fazer ficar infeliz para além disto? Sempre tive esta dúvida, que se foi acentuando à medida que me iam acontecendo coisas capazes de levar muitas mãos à cabeça, mas não levaram as minhas. Senti que essas coisas roçaram o menos bem, muitas vezes cheguei ao "estou mais-ou-menos", mas nunca passei a linha para a casa do "infeliz". O que me faria chegar lá? Logo eu, que até sou sensível às pessoas, às causas e ao mundo, já era altura de umas quantas depressões, não? Onde anda, para mim, a infelicidade?
   Eis, então, que descobri o que me pode fazer infeliz. E não só pode, como faz. A minha felicidade passa, unicamente, pela felicidade dos outros. Grande coisa? Grande cliché? Ora merda, pois é. É piroso? Cor-de-rosa nojento? Sabe a "tá bem, diz-me algo novo"? Gostava de dizer algo novo, mas é o que se passa: há alguém que quero muito que seja feliz e não tenho meios para tal.
   E é isto: está a sugar-me todas as forças e a transformar a minha vida num pânico. Nunca me tinha acontecido não conseguir ajudar, nem que por breves instantes. Aconteceu agora. Não consigo ajudar. Não desisti nem tenciono, mas final e infelizmente encontrei um muro intransponível e a palavra "milagre" ter surgido na minha cabeça, aclarou que estou verdadeiramente de mãos e pés atados. Mas não desisti. E se isso passar por fazer coisas que, à vista do mundo inteiro, sejam inexplicáveis, não me vou importar: nenhum momento menos bom para mim ou para a minha reputação me fará tão infeliz quanto me faz agora ver-te assim.

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