Os jovens em 2012 são...

   ... pessoas obcecadas pela ideia de ter um Currículo preenchido - tanto, que se metem em tudo e, no fim, não fizeram nada.

   Mas espera! Afinal há resultado final e nem está nada mal. Vai ficar um máximo no CV. Oh, como enche as medidas destes jovens, poder dizer que estiveram no projecto X, aquele tal projecto que envolveu centenas de entidades e muito trabalho! Oh que trabalheira! E ainda estavam metidos em 50 mil outros projectos, estágios, part-times, idas ao futebol, ao cinema e à manicura, saídas à noite, movimentos estudantis, aulas, férias com a família, viagens com os amigos... uff! Estes jovens de 2012 são mesmo multi-task. Desdobram-se. Ou talvez não. Estes jovens 2012 que dizem "sim" a tudo quanto é oportunidade que reluz, só conseguem fazer bem a parte de lazer da sua vida. O social, o que fica bem no Facebook. Aquela parte em que têm assuntos interessantíssimos para conversar como: "ei, faço parte disto, disto, daquilo, mais disto e ainda faço o pino ao mesmo tempo, sendo que com o pé direito consigo ainda escrever poemas em chinês, quando estou inspirado". Essa parte corre bem, é fácil e dá-lhes a ilusão de que estão, de facto, a construir algo e a ganhar experiência. Mas não estão e até me interrogo como podem achar que sim, se por iniciativa própria não dedicam qualquer tempo a qualquer um dos mil a fazeres, mas enfim, coitadinhos, são pequeninos.
   Estes super jovens de 2012, se se podem orgulhar de ter participado em algo que correu bem, é unicamente pelo inteligente acto de terem dado o seu nome. O resto, fez um ou outro jovem - desses em vias de extinção - que sabe realmente o que é comprometer-se com algo. Um ou outro jovem com maturidade suficiente para perceber que se quer fazer coisas das quais se possa orgulhar, não pode querer fazer mil simultaneamente. Um ou outro jovem obrigado a fazer escolhas, onde uma delas foi crescer - outra foi ganhar paciência e sobretudo altruísmo, para levar ao colo os super jovens imaturos 2012 e terminar, com sucesso, o tal projecto em que se meteu e para o qual já deu tanto. Um ou outro jovem muito burro, claro está. 

   No final da história, o que conta é o Curriculum Vitae e enquanto o super jovem 2012 irá exibir umas cem páginas de experiência, o outro jovem muito burro ficará para trás, por em tempos não ter podido agarrar mais oportunidades. Não sei se os super jovens se apercebem do quão maus são para com os outros, mas espero sinceramente que isto aconteça por ingenuidade e imaturidade e não propositadamente. É que, numa corrida parva para preencher o CV, vão-se espezinhando pessoas, que mais cedo ou mais tarde se vão cansar de trabalhar ingloriamente - e eu não quero que pessoas convictas, responsáveis e principalmente apaixonadas pelo que fazem, deixem de existir.

Comentários

  1. Impossível dizer melhor! Também sou estudante de CC (aliás descobri o post por um colega meu que foi ao ENECC) e sei muito bem o que sentes!

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  2. Para muitos não se trata de preencher um Currículo ou de brilhar no Facebook trata-se sim de viver, de aproveitar cada momento, de não falhar as oportunidades, para que um dia mais tarde dê prazer olhar para trás e ver que bem mais do que o suposto. Há quem chame multi-tasking, outros chamam organização e capacidade de conciliação. Resumir os nossos dias a um só propósito, foi outrora denominado Taylorismo, algo que nos fez evoluir, progredir, mas também nos robotizou, insensibilizou e acabou provocando a guerra. Para que o sistema não decline, é necessário apelar harmonia, ao contacto e jamais ao isolamento. A paz depende disso mesmo. A inspiração provêm da experiência, das vivências, sem elas o Homem bem pode imaginar mas nunca fará o melhor juízo. Se com palas nos orientarmos sempre a norte, podemos até chegar ao destino, mas pelo meio ficaremos a leste..

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