Remar contra a maré # 2

   O ano que mais custou a planear chegou ao fim e já fiz o meu balanço. Estou satisfeita, muito, com o rumo que tudo tomou. Nenhuma tragédia adveio do meu plano inicial portanto, yeah! É claro que nem tudo correu às mil maravilhas - às vezes até correu a maravilhas nulas - mas é disso que o mundo é feito.
   Ir para o Jardim de Infância, Escola e Faculdade estava previamente estipulado desde que me lembro, instituído por aquilo que na minha cabeça é a lógica normal das coisas (uma questão de educação, eu sei). Vivi quase toda a minha vida sem ter de tomar decisões radicais que a alterassem, já que a maior parte do tempo foi passado nas instituições que mencionei ou em actividades em seu torno. É normal, sou (?) uma miúda e o grande desafio surgiu apenas há um ano, altura em que se avistava o fim da Faculdade e apareceu a questão "e agora?".
   Para ser exacta, estávamos em Setembro de 2011. Toda eu era pânico graças à defesa do Seminário (o trabalho de fim de curso que para além de orgulho, me ofereceu muita pestana queimada) e, a juntar à festa, estava assombrada pelo fantasma da disciplina "Análise de Dados Univariados e Multivariados", uma das 4 que havia ignorado no primeiro ano da licenciatura e que, a partir daí, não tivera tempo de pegar (com as 4 em atraso, passei a ter 7 por semestre nos anos seguintes e não foi boa ideia ter deixado a mais difícil - ou que precisava de mais dedicação - para o último semestre do 3º ano).
   Tinha, então, de preparar a defesa do Seminário e, se queria terminar a Licenciatura (era esse o plano inicial, acabar no tempo certo), sobravam-me dois dias de (adivinhava-se) pura exaustão para dominar a maldita matéria. Era muito pouco possível: ou gastava fortunas com um óptimo explicador, ou arranjava uma artimanha para que alguém fizesse o exame por mim - a sério que não ia conseguir fazer a cadeira por mérito próprio?
   Recusava-me a aceitar que era incapaz de passar, se centenas de alunos (a maioria vinda de letras) já o tinham feito - e eu sei que nos devemos focar só em nós, mas quando acho algo difícil recordo-me sempre de que já alguém conseguiu e que é minha obrigação fazê-lo também, se assim for necessário. Sabia que, se tentasse arduamente, haveria de conseguir, mas força era coisa inexistente, naquela altura. 
   Podia tentar, é um facto, mas estava farta de meses e meses de investigação, entrevistas, e-mails e visitas a bibliotecas. Voltas e voltas com um tema que dava gozo por ser fresco, mas dava (mesmooo) trabalho por estar ainda pouco desenvolvido e haver pouca literatura disponível, pelo menos em português, inglês e espanhol (juro que percorri todos os milhares de links que me apareceram no google sobre o assunto).
   O Seminário estava a dar-me o trabalho da minha vida e não podia deixar que os fantasmas de algo tremendamente difícil de conquistar (dada a não preparação), viessem deitar por terra meses e meses de trabalho para uma conquista quase certa. Atrofiar naquele momento não era opção e a solução começou a tornar-se clara.
   Escandalosamente ousada, uma voz sussurrava-me "deixa a cadeira para o próximo ano" e apresentava-me n razões a favor da "desistência", nunca antes considerada. Achei que estava a precipitar-me, dominada pelo cansaço, e obriguei-me a reflectir. Esquematizei todos os prós e contras, analisei calmamente cada uma das alíneas e expus a ideia a algumas pessoas. Decidi. A minha mãe foi a pessoa que ficou mais relutante (e eu, no seu lugar, ficaria também), mas confiou.
   Hoje, 9 meses volvidos, nada me garante que não tivesse já um emprego milionário no meu papel de licenciada em CC, mas acredito muito pouco nisso. Fui assistindo aos desenvolvimentos dos meus colegas, às suas conquistas, derrotas e progressos e, a par, fui vivendo a minha opção, totalmente contra a maré. Nunca duvidei daquilo que queria fazer, depois de ter tomado a decisão e estou mesmo, mesmo, satisfeita com o que consegui. Sei que a minha mãe não se arrependeu do voto e estou surpreendida com a quantidade de "prós" que não estavam na lista, mas apareceram. Não sei se tive sorte, foi daqueles anos em que trabalhei o mais direitinho possível, portanto arrisco-me a dizer que foi mérito, independentemente da maneira como isso possa soar a quem lê. Trabalhei muito, tive muito poucos momentos de lazer, mas não só fiz Análise de Dados com a nota mais alta que alguma vez havia tido na Faculdade (19), como ganhei dinheiro suficiente para cobrir as propinas e mais qualquer coisa, ganhei experiência em 4 saídas profissionais diferentes, aprendi a respeitar verdadeiramente horários e comecei a respeitar ainda mais as pessoas. Cresci. Acho que devo estar feliz e grata por isso. Estou.

Amanhã é a bênção dos meus caloiros. Fomos nós e eles que instituímos a praxe naquela academia, até então snob de mais para festejos à moda de Coimbra. Vou até lá relembrar o momento em que joguei bem alto o apoio dos meus amigos e família em forma de fitas e, quem sabe, ganhar nova inspiração para os "e agora?" que já cá estão outra vez. Apesar da pressão que todos parecem querer fazer sobre mim, mantenho a calma suficiente para discernir. Que venha Julho e que venham as soluções. Para já, não tenho medo.

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