A fidelidade às marcas
Sentia inveja dos sortudos que levavam Bolicao todos os dias para o lanche. Incrível como não me lembro do que comia (talvez por não ser muito adepta da modalidade), mas retive grande parte dos hábitos dos meus colegas, de tão rotineiros que eram - aposto que se jogássemos às adivinhas com isto, ficaríamos surpreendidos com a quantidade de marcas que associávamos a cada um. A nossa vida podia, de facto, ser completamente descrita por marcas: anos e anos em que a primeira coisa que ingeria era leite achocolatado Nesquik (que hoje detesto), depois a fase em que só pintava com lápis da Caran d'Ache e a fase em que era tão magra, que só me assentavam bem as calças da Salsa.
Hoje, o tal exercício de classificar pessoas funciona com muito poucas. Estamos menos exigentes? Temos menos dinheiro? Ou temos menos mania?
Hoje, o tal exercício de classificar pessoas funciona com muito poucas. Estamos menos exigentes? Temos menos dinheiro? Ou temos menos mania?
Anos 90. Tirando os filhos de pais menos metódicos ou preocupados com o assunto, todos os outros exibiam determinadas marcas, fosse por que motivo fosse. Confiança, preço, era o que havia no mini-mercado ao pé de casa... não sei. Sei que as minhas sapatilhas, regra geral, eram Adidas; sei que o café de cevada da avó era invariavelmente Mokambo; e sei que todos os meus amigos e as suas casas tinham um cheiro característico, graças aos champôs e detergentes que as mães recomendavam.
Novo milénio, tudo na mesma. Raramente consumia produtos de marca branca (que não me inspiravam qualquer confiança) com excepção das bolachas, produto I-don't-care-a-gulodice-fala-mais-alto. Do que me lembro, quando fui para a faculdade comprava leite Mimosa Cálcio, água do Luso, cereais Nesquik, manteiga Mimosa, atum Bom Petisco, salsichas Nobre, arroz Cigala, óleo Fula, maionese Calvé e azeite Galo; bens alimentares "sem marca", zero.
Novo milénio, tudo na mesma. Raramente consumia produtos de marca branca (que não me inspiravam qualquer confiança) com excepção das bolachas, produto I-don't-care-a-gulodice-fala-mais-alto. Do que me lembro, quando fui para a faculdade comprava leite Mimosa Cálcio, água do Luso, cereais Nesquik, manteiga Mimosa, atum Bom Petisco, salsichas Nobre, arroz Cigala, óleo Fula, maionese Calvé e azeite Galo; bens alimentares "sem marca", zero.
Com a gestão das compras a meu cargo e o budget mais reduzido, experimentei outras marcas (mais baratas) e estabeleci novas relações (muitas vezes de ódio). O predomínio da satisfação deu-se com a marca branca Pingo Doce, que hoje decora grande parte da despensa - enlatados, massas, arroz e água são, salvo excêntricas excepções (ou luta pela não destruição das marcas por parte das brancas), artigos comprados nesta cadeia de supermercados.
Para bem da economia, não levaram a melhor em tudo: a maionese e os cereais mantêm-se; no leite, dependendo do que está mais barato, compro meio-gordo Mimosa ou Gresso (marca branca se for para pudins ou crepes); a manteiga também é a mesma, porque cada pacote dura quase um ano e não vou baixar a qualidade por 20 cêntimos de 6 em 6 meses.
De resto, há muitas marcas que compro quase sempre, mas é este quase que destrói a minha fidelidade - não vou fazer bolonhesa para 30 com polpa de tomate da Compal, certo? Há, contudo, um terreno onde ainda sou bastante cautelosa: saúde e estética (lentes de contacto, líquidos e soros, tampões, vernizes para as unhas e produtos para o cabelo, têm a marca bem definida independentemente do preço).
Descontos e ofertas motivam as escolhas e as relações com as marcas são cada vez mais efémeras. Ainda há por aí fiéis a alguma coisa? Ou sou só eu que ainda tenho um pé na tradição?
Bolicao por acaso nunca gostei, sempre achei aquilo extremamente enjoativo para deleite dos meus pais :b mas sim, no resto concordo em absoluto contigo. Em casa dos meus pais ainda se compra muita coisa da marca (embora já não tudo), mas cá em casa é tudo do 'santo' Pingo Doce. Excepção feita, tal como tu a produtos de higiene, a esses mantenho-me extremamente fiel :)
ResponderEliminarum pacote de manteiga dura-te um ano? estou mesmo impressionada, a mim dura-me um mês!
ResponderEliminaré assim, eu em produtos alimentares passei para marcas brancas, senão nem dinheiro tinha para comer. às vezes tenho de sacrificar a qualidade, para ter dinheiro para uma lambarice ou outra.
já essas cenas das lentes, vernizes e assim eu vou experimentando, às vezes corre bem, e passo a poupar muito, outras nem tanto, e prefiro manter-me fiel à marca. mas a palavra de ordem para mim é mesmo poupar..
Joana, acho que o leque de opções no que diz respeito à marca branca também se alargou e isso é bom, temos mais escolha. Há coisas às quais me mantenho fiel: manteiga, iogurtes de comer, cereais, pasta dos dentes, gel de banho. Quanto ao resto, tenho experimentado várias marcas brancas (Pingo, Continente, Mini) e muitas delas superam expectativas. Beijinhos
ResponderEliminarTempos diferentes. Actualmente vivemos num mundo que contém 2 aspectos que podem ter provocado este fenómeno que falas: O mercado está cada vez mais saturado e as pessoas com cada vez menos dinheiro.
ResponderEliminarAs marcas deixaram de ter tanta referência e distinção, porque cada vez são mais. As pessoas deixaram de ter as tais marcas fiéis porque agora o que interessa é comprar barato.
Foi o resultado a que se chegou com esta da política de consumismo abusiva: mais oferta do que procura.
Beijinho Persoa ;)