Geração "?!" #1
Sou da geração que, tendo metade da idade dos seus pais, já viveu mais do que eles (não necessariamente melhor mas isso depende de cada um). A geração que cresceu confortavelmente com brinquedos, com tecnologias, com aulas de natação, lições de inglês, férias, cinema, música, parques temáticos, entre tantas outras actividades, bens e oportunidades. A geração educada com o "se estudares podes trabalhar naquilo que gostas, ganhar bem, viajar, casar, ter filhos, um automóvel, uma moradia e tudo o que desejares" e que se preparou para um futuro que, chegado o momento, não encontra.
Não esquecendo o particular (uns tinham mais férias, roupas e/ou brinquedos do que outros; mais ou menos atenção e estímulos; mais ou menos facilitismo; etc.), podemos generalizar ao afirmar que a maioria dos jovens de hoje cresceu com a crença - tão enfatizada por pais e professores - de que, se se esforçasse, veria os seus objectivos cumpridos. Não está a acontecer: a taxa de desemprego jovem assusta, quem consegue agora emprego recebe muito pouco ou mantém contratos de trabalho precários, todos os meses sai gente do país aos milhares e a motivação dá lugar à depressão.
Por muito que o Governo nos queira responsabilizar por tudo isto (sim, sabemos que cada um de nós pode melhorar para reduzir a sua percentagem de insucesso, mas...) a fatia de culpa maior pertence à conjuntura. Estamos no país errado, na altura errada. Há uma série de factores que nos são alheios e que nos empurram para baixo. Nós bem lutamos e esgravatamos para voltar à superfície a cada pazada de terra que nos atiram para cima, mas a campanha da qual fomos alvos durante vinte anos revelou-se uma mentira: depende muito menos de nós do que nos fizeram crer.
Porém, ser apanhado de surpresa não justifica não reagir. As regras do jogo mudaram, é normal que isso nos desoriente, mas há que não perder o foco ao essencial: há solução. Se vai ser complicado lá chegar? Bom, somos putos dos videojogos, não somos? Resta-nos decidir se aceitamos o desafio ou se desistimos e ficamos a assistir enquanto os outros vão tentando passar de nível.
Amen!
ResponderEliminarOra nem mais. Realmente, a nossa geração ficou-se pela "promessa" que não se concretizou e é sempre mais fácil culpar seja quem for do que arregaçar mangas e trabalhar.
ResponderEliminarMas, é isso mesmo. Cabeça erguida, se não acontecer hoje, amanhã é um dia novo.
O que está a acontecer é mau. É muito mau para ser verdade. Mas é mau e é verdade. Mas como em tudo na vida, até nas coisas más podemos conseguimos encontrar algumas coisas, não diria boas, mas ensinamentos que em tempo de fartura nos passam ao lado. Uma delas é a queda do mito de que basta querer para ter ou ser.
ResponderEliminarInfelizmente eu venho de uma geração sem sonhos, sem utopias, que passou uma vida de privações, antes do aparecimento, em Portugal, desse mito do "basta querer". Aprendemos que a vida é uma luta constante pela sobrevivência, onde a maioria chega ao fim sem nunca conseguir vencer. Aprendemos que não depende só de nós. Quase nada depende de nós. Até a esperança de que ao menos aos nossos filhos fosse permitido sonhar, vimos morrer. Tanto esforço, tantas privações para darmos aos filhos ferramentas que lhes permitissem "mandar" na sua vida e no fim, quando devíamos estar a gozar um merecido descanso, continuamos a viver num mar de preocupações. Por eles e pela nossa velhice. Se lá chegarmos.
Este país não é para novos, nem para velhos.
Adorei!
ResponderEliminarEngraçado que eu costumo dizer sempre o contrário: que os meus pais com a minha idade já tinham mais vida que eu. Os meus pais com a minha idade já eram casados, tinham os seus trabalhos, a sua casa e a vida encaminhada. Eu estou aqui na cepa torta a ser sustentada ainda pelos meus pais.
ResponderEliminarTal como dizes, crescemos sob a filosofia do estuda que terás uma boa recompensa depois... A realidade é que investimos milhares de euros em formação e depois nem num shopping conseguimos emprego. Mas pronto, desistir é que não pode ser, bola para a frente que alguma coisa boa há-de chegar :)
Concordo plenamente com o que escreveste! Andam os meus pais a dizer para eu me esforçar nos estudos durante estes anos todos para não ser como eles e acabar a trabalhar numa confecção e agora estou eu na faculdade, sem saber o que me vai acontecer quando acabar o curso e que provavelmente ainda vou depender deles durante muito tempo... Nesta nossa situação, parece-me que vamos ter que estar sempre a adiar projectos, a adiar decisões, à espera que surja a "nossa oportunidade" e a assim estamos a adiar a nossa felicidade... Lá se foi a época em que um curso superior assegurava emprego...
ResponderEliminarConcordo plenamente com o teu texto!!
ResponderEliminarmais vivida? no que? não consegues comparar tempos diferentes. Só podemos comparar tempos semelhantes. Se antes não haviam as novas tecnologias não significa que as pessoas eram menos preparadas.. estavam preparadas para o que havia na altura. Agora estão preparadas para mexer num computador mas pegar num enxada ou coser um botão já não sabem!
ResponderEliminarMas esta nova geração em termos gerais tem um problema grave. não têm a estaleca necessária para vingar, porque tudo caiu aos seus pés sem esforço, sabem tudo sobre facebook, mas saber alguma coisa sobre viver e ser independente e responsável já não é com eles. vejo isso pelos meus sobrinhos!
tens que estar preparada para ires trabalhar em qualquer área e não teres um posto fixo. não devia ser assim... mas pelo que se vê.. isto ainda vai piorar muito!
Paulo, não conseguimos comparar tempos diferentes e ressalvei que nem todos pudessem ter vivido melhor, mas posso assegurar-lhe que os miúdos nascidos no fim de 80 até 90 viveram mais na medida em que tiveram muito mais experiências, viajaram mais, conheceram muito mais coisas e bem sei que há os meninos da cidade que viveram a vida trancados num apartamento, mas eu falo da minha experiência e da grande parte dos jovens que tenho à minha volta: pessoas que mesmo por brincadeira tiveram pelo menos uma experiência nas vindimas ou a apanhar batatas, para saber o que é uma enxada, mas que falam línguas, que experimentaram um sem número de brinquedos e tecnologias, aprenderam com os avós as coisas do antigamente e aprenderam com os pais e com os outros as coisas de agora. Quando digo que vivemos mais, é porque a vida na altura dos meus pais para muitos era escola até à quarta classe e trabalhar no campo ao mesmo tempo, viviam até sair de casa dos pais num desconhecimento de várias realidades, mesmo estando mais aptos para o trabalho físico. Nós aos 20 anos já sabemos e vivemos uma porrada de situações diferentes excluindo, claro, quem viveu sempre entre a playstation, a escola e as quatro paredes do seu apartamento.
EliminarSe temos um problema? Temos vários e é certo que muitos de nós estão habituados a um facilitismo enorme, aquele que houve nas suas educações, e é por isso que conhecemos casos de gente que está na faculdade até aos 30 para fazer um curso de 3 anos. No entanto, também temos muita gente educada por objectivos, aquela coisa de termos boas notas, de sermos bom no desporto, mesmo que nunca tenham vivido sozinhos, esses jovens são capazes de agarrar desafios e vingar, acredite. A nossa geração tem uma capacidade enorme de se adaptar à mudança, porque tudo teve um ritmo mais acelerado connosco, somos nativos digitais e isso não influencia só a nossa relação com o computador ou o facebook! Acredito que como em todas as gerações haverá quem fracasse, mas garanto-lhe que haverá muita gente a vingar e terá certamente exemplos perto de si - já para não falar que não é qualquer um que mantém a sanidade quando os tempos mudam tão rapidamente e se tem de mudar de estratégia quase todos os dias, o que não acontecia nos empregos dos nossos pais e avós que duravam a vida toda (ou grande parte dela).