Nós quatro, uma mesa e uma máquina fotográfica

 Numa amizade quase tão antiga como o que nos lembramos de ser a vida, é normal que os pormenores sejam absorvidos sem repararmos: estamos entretidos a viver, não obcecados em reflectir em todas as vezes que respiramos. 

    Olhando agora, vejo que não teria sido estranho se tivéssemos entrado em depressão quando fomos morar para quatro cidades diferentes: afinal, estávamos teoricamente a afastar grande parte da nossa vida. Na prática, contudo, não se revelou assim: fomos naturalmente nas bagagens umas das outras e a essência continua imutável, ainda que as circunstâncias tenham mudado muito. Continuamos a ter qualquer coisa na qual nem sequer pensamos e é por isso que não me apercebi que já tinha passado tanto tempo desde algo que era a mais comum das nossas rotinas: os lanches.
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   Passaram quê? Quatro anos desde que nos juntámos as quatro (coincidência numérica) no conforto do lar, à volta de uma mesa cheia de coisas boas? Quatro anos sem as tardes com a malta na pastelaria e, pior, sem a reunião privada que fazíamos, no mínimo uma vez por semana, em casa de uma de nós? Demasiado tempo, agora que reparo. Demasiado tempo sem o nosso meeting espécie Conselho de Ministros, comandado pela criatividade do que conseguíssemos inventar para o lanche, com os ingredientes disponíveis na despensa (ainda me lembro de comer Cerelac com Um Bongo, em casa da R.). Demasiado tempo sem as nossas conversas, daquelas que só nós e quatro paredes (que podem não acrescentar nada ao mundo em geral, mas bastante - mesmo que  parvoíce - ao nosso particular).

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   Soube bem, a todos os sentidos, voltar a isto ontem. O nosso concílio, a nossa gula, a nossa vida. Quer-me parecer que nós-quatro-e-uma-mesa é fórmula para resultar sempre, aqui ou no Japão.

Comentários

  1. É óptimo quando nada se perde no tempo, são essas pessoas que valem a pena ;)

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  2. Viver sem tempo para reflectir obcecadamente sobre todas as vezes em que respiramos é muito bom. E gosto do vosso grupo, lembra-me umas reuniões semanais que em tempos também eu fazia! De resto, se fores para o Japão que seja para continuares a emanar positivismo!

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  3. É bom perceber que nem a distancia muda as coisas boas <3

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