Porta-Tazos #2 - Bolinho

   A rubrica dos petizes dos anos 90 não está esquecida e hoje é bom pretexto para a retomar, não fosse o 1 de Novembro um dos dias mais adorados da pequenada, que ignorava a parte de visitar os mortos no cemitério e se concentrava, apenas, em "ir ao Bolinho".

   A década de 90 representou a transição entre o costume religioso e o importado Halloween: "Pão por Deus" caiu em desuso (íamos simplesmente "ao Bolinho"); aos habituais pães e frutos secos, juntou-se a oferta de doces (sem que ameaçássemos com travessuras); e, para receber tudo isto, bastava ter lata para tocar às campainhas, que o destino encarregava-se de nos encher de guloseimas o saco feito na escola, de propósito para a ocasião.
   Nada de recitar poemas, ler versículos ou fazer malabarismos... pedíamos e os adultos davam. Tudo muito fácil? Desenganem-se! Para rechear bem o saco haviam truques a utilizar e esta é uma selva onde não se safava qualquer criança mimada! O grupo tinha de ser pequeno e veloz, era requisito saber andar de bicicleta (para ampliar a zona de ataque) e, mais importante ainda, conseguir equilibrar o saco no guiador, para não perder a "mercadoria". Mais, dentro do saco de pano, devíamos levar um de plástico, para separar os bolinhos que pudessem deitar migalhas e sujar o resto das ofertas. Ah, e ter um ar fofinho e ser educado era meio caminho para o sucesso.
   De porta em porta, visitávamos vizinhos e restante freguesia (a vergonha ou o cansaço eram o limite) a pedir o Bolinho (nome em honra à espécie de pão com frutos secos muito oferecido por esta altura, cujo nome variava de casa para casa entre "merendeira", "broa doce" e outros que já não recordo). Para além do típico "bolo" choviam rebuçados, chocolates, chupa-chupas, pastilhas, gomas, enfim, o suficiente para duas ou três casas ao estilo dos irmãos Hansel e Gretel.
   Este era um dia de sonho para qualquer criança e, em casos de sorte extrema, ainda ganhávamos uma moedita. Coleccionadores de porcarias calóricas mães de muita cárie, éramos tão empenhados que regressávamos a casa a meio da manhã para despejar o saco e continuar a ronda. Perfeito, perfeito, só mesmo quando encontrávamos aquilo que a nossa mãe tinha comprado para oferecer a quem batesse à nossa porta. Bons tempos!

Comentários

  1. parece-me uma tradição bem gira :)
    parabéns pelo bonito blog, vou seguir :)

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  2. aiai. bons tempos mesmo!
    p.s: também andas no iscsp?

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  3. Estou a gostar do seu blog,muito engraçado, irónico, com "verve" :)
    Pelo que li, pareceu-me muito jovem, surprende-me que ainda tenha encontrado esta tradição na sua infância.

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  4. Ah nao conhecia, parece tao bom!


    www.bitsnpieces.me

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